John Sherman - Este olhar é espiritual?


O que tenho a dizer não é um ensinamento espiritual. Não é algo que o conduzirá a uma transcendência, a uma transformação ou a uma fuga da vida humana comum. Não é algo que vai torná-lo iluminado. Você já é iluminado. Não é algo que lhe dará um meio de fugir da sua vida. Não é algo que tornará todas as experiências da sua vida tranquilas e fáceis. Não é algo que o livrará dos comportamentos condicionados, reações, relacionamentos e opiniões sobre as coisas acumulados com o tempo. 
Mas o que eu tenho a oferecer é algo que, com certeza, mais cedo ou mais tarde, o livrará dessa sensação subjacente de que a vida humana é, de certo modo, inerentemente errada, insatisfatória e perigosa. Eu prometo. Esta ação o livrará da ideia de que você precisa manter-se sempre alerta, vigiando os pensamentos, as sensações, os relacionamentos e ideias que vão e vêm dentro de você, para que você não tenha as ideias erradas, os relacionamentos errados, ou os desejos e aversões erradas. Todas essas coisas são efeitos. Elas fazem parte do aparato que foi criado para protegê-lo daquilo que não pode fazer-lhe mal algum: a sua vida.
Não há nada de espiritual no que eu proponho. Eu falo só de você, sempre só de você. Do jeito que você é, neste exato momento. Não falo do aparato da sua vida, da história da sua vida, das expectativas, desejos e aversões da sua vida; falo de você, em quem todas essas coisas vão e vêm.
O objetivo desta ação repetitiva de olhar para si mesmo não é livrá-lo da sua vida. O objetivo é livrá-lo da ideia de que a vida está errada e precisa ser consertada, que ela precisa mudar. E este objetivo não será alcançado através da aquisição de um novo nível de entendimento dessas coisas, de modo que você possa concordar comigo e dizer: “Sim, entendi. Agora entendi, agora está tudo bem.” Esta ação não lhe dará isso. E se der, isso não o ajudará de maneira alguma.
A ação simples de tentar olhar para si mesmo (o seu cerne, a sua essência, isso que está sempre presente, que não muda nunca) põe toda a energia do aparato que evoluiu para protegê-lo em contato direto com o que ele está supostamente protegendo. Esse contato direto destrói, em sua totalidade, a suposição que deu forma ao próprio aparato. E isso acontece não através de uma compreensão nova, mas da mesma maneira que um fósforo aceso, quando mergulhado na água, se apaga. Não porque o fósforo agora compreende que foi mergulhado na água, mas porque ele simplesmente se apaga. 

John Sherman em Santa Monica, Califórnia em 28 de março de 2010

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