Todo
mundo diz que a identificação equivocada é o problema, mas ninguém tem a menor
ideia do que fazer com ela, a não ser "eliminar o ego", "matar a mente". O que é estranho com
relação a isso, em nossa sociedade em particular e na cultura ocidental, é que "ego",
palavra usada para indicar o que precisa desaparecer, é o termo latino para "eu".
Esta é uma coincidência realmente maravilhosa, porque de
maneira bastante chocante e surpreendente, o objetivo sugerido por Ramana para
a sua investigação é justamente o ego, este
sentido de "mim
mesmo", e não alguma coisa nova. Ramana diz
que a realidade da identificação equivocada consiste na totalidade de sua
consciência individual. Ela não é um objeto que surge e desaparece dentro da
sua consciência individual; ela é a totalidade do mundo, da unidade mente/corpo
que aparece quando você acorda de manhã, desaparece quando você adormece à
noite e, quer você tenha notado ou não, aparece e desaparece frequentemente
durante o dia. É a totalidade desta consciência que você talvez tenha passado a
acreditar que é a própria consciência. Esta é a essência da identificação
equivocada.
Isto é realmente importante. Não se trata de alguma coisa
que surge dentro da sua consciência; ela é a realidade da sua consciência
individual em sua totalidade. E o campo que subjaz a ela é a sensação de
existência. É esta sensação de existência como "eu" que se revela permanente. É a
própria fonte do "pensamento
eu" que se revela permanente.
Ramana nos orienta a encontrar o ego. Ele nos diz para encontrar este
sentido, esta sensação de "mim mesmo" (que toda a minha vida
espiritual eu sabia que era o problema que tinha que desaparecer) e manter a
atenção somente nela. Quando a atenção se desviar desta inexperienciável
experiência de ser, ele nos orienta a trazê-la de volta. É isso que Papaji quer
dizer quando compara a mente, e sua tendência a voltar-se para o exterior, com
um touro que precisa ser continuamente trazido de volta ao estábulo, até que
finalmente ele se cansa de ir para fora e percebe que tudo que buscava lá fora
pode ser encontrado apenas aqui.
Quem sou eu? A que estou me referindo quando digo a
palavra "eu"?
Esta pergunta aponta para o alvo da sua investigação. A que estou me referindo
quando digo a palavra "eu"? Eu sei do que estou falando quando falo de minha
camisa marrom. Sei a que objeto estou me referindo. Sei aonde minha mente vai
se você me perguntar "Que tipo de relógio você está usando?" Aonde vai a sua
mente quando eu lhe pergunto "Quem é você?"
Essa é a fonte, essa é a origem, esse é o campo. E o que
se pede a você é simplesmente isto: mantenha sua atenção nisso, não se
satisfaça com nada mais; e veja que todas as coisas que você pensou que eram o
objeto de sua vida espiritual são puro lixo. Não servem para nada.
Em função desta investigação, pelo menos aceite isso como
uma possibilidade, e busque somente o seu ego. Deixe de
lado toda a bagagem metafísica que você carrega, esqueça todos os conceitos
filosóficos que você conhece, deixe de lado todas as ideias espirituais que
você tem, e simplesmente, na prática, procure a si mesmo. E não se satisfaça
com mais nada.
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