A mente superficial não pode resolver
este problema do sofrimento, porque sempre procura evitar o sofrimento. Foge ao fato — o
sofrimento — por meio de uma reação fácil e imediata. Se tendes uma forte dor
de dentes, naturalmente logo tratais de procurar o dentista, porque desejais
livrar-vos dessa dor física; e isso é uma reação normal e correta. Mas, a dor
psicológica é muito mais profunda e sutil, e não há médico, não há psicólogo,
não há nada que vos possa extingui-la. No entanto, vossa reação instintiva é
fugir dela. Tratais de ligar o rádio, de ver televisão, de ir ao cinema —
sabeis quantas distrações a civilização moderna inventou. Qualquer espécie de
entretenimento, seja uma cerimônia religiosa, seja uma partida de futebol, é
essencialmente a mesma coisa, mera fuga à vossa aflição, ao vosso vazio
interior; e é isto o que estamos fazendo em toda a parte: buscando em
diferentes formas de entretenimento o auto-esquecimento.
E, também, é a mente superficial que
procura explicações. Diz: “Desejo saber porque sofro. Porque devo eu sofrer, e
vós não?” Está cônscia de não ter praticado, na vida, nenhuma iniqüidade e,
assim, aceita a teoria de vidas passadas e a ideia disso que na Índia se chama karma — causa e
efeito. Diz ela: “Pratiquei antes alguma ação injusta, e agora estou passando
por ela”; ou “Estou agora fazendo algo de bom, e colherei no futuro os
correspondentes benefícios”. É assim que a mente superficial se deixa enredar
nas explicações.
Observai, por favor, vossa própria
mente, observai como vos livrais de vossos sofrimentos com explicações, como
vos absorveis no trabalho, em idéias, ou vos apegais à crença em Deus ou numa
vida futura. E, se nenhuma explicação ou crença tiver sido satisfatória,
recorreis à bebida, ao sexo, ou vos tornais mordaz, duro, acrimonioso,
melindroso. Consciente ou inconscientemente, é isso o que de fato ocorre com
cada um de nós. Mas, a ferida do sofrimento é muito profunda. Ela vem sendo transmitida
de geração em geração, de pais a filhos, e a mente superficial nunca retira a
atadura que cobre essa ferida: ela não sabe, em verdade, o que é o sofrimento,
não o conhece intimamente. Tem apenas uma ideia a seu respeito. Tem uma imagem, um
símbolo do sofrimento, mas nunca se encontra com ele próprio; só se encontra
com a palavra “sofrimento”. Compreendeis? Ela conhece a palavra “sofrimento”,
mas não estou certo se conhece o sofrimento.
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