Krishnamurti - Experimente Um Novo Caminho

A mente superficial não pode resolver este problema do sofrimento, porque sempre procura evitar o sofrimento. Foge ao fato — o sofrimento — por meio de uma reação fácil e imediata. Se tendes uma forte dor de dentes, naturalmente logo tratais de procurar o dentista, porque desejais livrar-vos dessa dor física; e isso é uma reação normal e correta. Mas, a dor psicológica é muito mais profunda e sutil, e não há médico, não há psicólogo, não há nada que vos possa extingui-la. No entanto, vossa reação instintiva é fugir dela. Tratais de ligar o rádio, de ver televisão, de ir ao cinema — sabeis quantas distrações a civilização moderna inventou. Qualquer espécie de entretenimento, seja uma cerimônia religiosa, seja uma partida de futebol, é essencialmente a mesma coisa, mera fuga à vossa aflição, ao vosso vazio interior; e é isto o que estamos fazendo em toda a parte: buscando em diferentes formas de entretenimento o auto-esquecimento.

E, também, é a mente superficial que procura explicações. Diz: “Desejo saber porque sofro. Porque devo eu sofrer, e vós não?” Está cônscia de não ter praticado, na vida, nenhuma iniqüidade e, assim, aceita a teoria de vidas passadas e a ideia disso que na Índia se chama karma — causa e efeito. Diz ela: “Pratiquei antes alguma ação injusta, e agora estou passando por ela”; ou “Estou agora fazendo algo de bom, e colherei no futuro os correspondentes benefícios”. É assim que a mente superficial se deixa enredar nas explicações.

Observai, por favor, vossa própria mente, observai como vos livrais de vossos sofrimentos com explicações, como vos absorveis no trabalho, em idéias, ou vos apegais à crença em Deus ou numa vida futura. E, se nenhuma explicação ou crença tiver sido satisfatória, recorreis à bebida, ao sexo, ou vos tornais mordaz, duro, acrimonioso, melindroso. Consciente ou inconscientemente, é isso o que de fato ocorre com cada um de nós. Mas, a ferida do sofrimento é muito profunda. Ela vem sendo transmitida de geração em geração, de pais a filhos, e a mente superficial nunca retira a atadura que cobre essa ferida: ela não sabe, em verdade, o que é o sofrimento, não o conhece intimamente. Tem apenas uma ideia a seu respeito. Tem uma imagem, um símbolo do sofrimento, mas nunca se encontra com ele próprio; só se encontra com a palavra “sofrimento”. Compreendeis? Ela conhece a palavra “sofrimento”, mas não estou certo se conhece o sofrimento.


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