Existe um pensante, como entidade separada do
pensamento? Ora, não há entidade separada; só há pensamento, e foi o pensamento
que criou a entidade separada chamada pensante. O pensamento é reação da
memória, tanto da consciente como da inconsciente, da oculta como da patente; a
memória é experiência, e a experiência é reação a estímulo e, depois, o
processo de dar nome, o qual empresta mais desenvolvimento à memória. A memória
reage como pensamento, nas relações, e todo esse processo de pensamento, esse ciclo
de memória, estímulo, reação, experiência e dar nome, que vai aumentar a
memória, é o que chamamos consciência. É só isso o que sou, e é só isso o que
sei. Vejo, pois, que a minha mente funciona dentro da esfera do conhecido; e
poderá ela funcionar fora dessa esfera? Percebo agora o processo integral do
meu pensar, o que me leva a fazer a pergunta: Poderá a mente transcender o
pensamento, que é resultado do conhecido? Não pode, evidentemente; porque,
quando o pensamento procura passar além, o que ele segue é sua própria "projeção".
O pensamento não pode experimentar o conhecido, só pode experimentar o que ele
próprio "projetou", que é o conhecido. O pensamento é a mente, que é
resultado do tempo, resultado do passado; e eu desejo saber se a mente é capaz
de passar além de si mesma. Não pode, é claro, porque o "além" é
desconhecido, não pertence ao tempo. Assim, a mente precisa findar — o que
significa que deve estar quieta, meditativa. Meditação não é o tornar-se alguma
coisa, mas a compreensão do processo total das relações, que é autoconhecimento.
É só quando a mente está tranquila, não tendo sido obrigada a ficar tranquila,
que existe a possibilidade de experimentar o desconhecido.
Pode, pois, a mente, que é o resultado da
experiência, que é memória — pode a mente experimentar o desconhecido?
Compreendem o problema? Pode a mente, que é memória, produto do tempo,
experimentar o atemporal? A função da mente é lembrar; e a verdade será objeto
de experiência e lembrança?(...) A questão é: a mente é o resultado do tempo, o
tempo é memória, e a memória diz: "experimentei" ou "não
experimentei". Será a verdade, o desconhecido, o imensurável, objeto de
experiência, ou seja, algo para ser lembrado? Se vos lembrais de uma coisa,
essa coisa já é o conhecido, não é? Será possível experimentar uma coisa que
não existe em relação com o tempo — o que significa experimentar, vendo a
verdade, momento por momento? Se me lembro da verdade, essa coisa não é mais a
verdade; porque a memória é coisa do tempo, da continuidade, e a verdade não é
do tempo, a verdade não é continuidade. A verdade do Buda não é a verdade que
hoje descubro. A verdade só se apresenta na mente de todo silenciosa. A verdade
não é coisa que possa ser procurada, experimentada, conservada, e adorada. Só é
possível "experimentar" o atemporal, quando a mente está liberta de
todo condicionamento. Assim, o autoconhecimento é a compreensão do
condicionamento.
O que importa é compreender o processo total da
mente. Cumpre-nos, agora, perceber que a verdade não é uma coisa suscetível de
ser lembrada. O que é lembrado é do tempo, é coisa do passado, e a verdade
nunca é do passado, nem do futuro; a verdade só pode estar no presente, naquele
estado em que não existe o tempo. O tempo é o processo da mente, a mente é
pensamento, o pensamento é reação da memória. A memória é a experiência do
estímulo e da reação, e porque a reação é inadequada; cria-se o problema das relações.
Assim, a compreensão do processo total do "eu" reside na compreensão
das relações, na vida cotidiana, e essa compreensão liberta a mente do tempo, e
ela, por conseguinte, é capaz de experimentar a realidade de momento em
momento, o que não constitui um processo de lembrança — não mais podemos chamar
"experiência" a esse estado, que é inteiramente diverso. Esse "estado
de ser" é felicidade suprema, não é algo que aprendemos em livros e
repetimos como discos de gramofone. Nesse estado, um homem é feliz, não repete,
para ele a vida não tem problemas. É só a mente que cria problemas.
Jiddu Krishnamurti - 12 de fevereiro de 1950
Eis o grande dilema de Krishnamurti!
ResponderExcluirO Ser não pode jamais ser "compreendido" intelectualmente!
A intelectualidade está no âmbito da razão, e esta são os olhos do próprio ego!
Como a ilusão pode ver a Verdade, se nem mesmo ela existe?
Eis um belo paradoxo!
A eterna busca do "eu" pensador pelo "EU" Ser, silêncio, Paz!
E o Cristo não disse:
Vai, abandona tudo e me segue!
Queres ser a ilusão e a Verdade ao mesmo tempo?
Abandona toda ilusão e só restará tua essência...
Simples...
parece complexo!
Não existe começo nem fim na meditação
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