Jiddu Krishnamurti - As Ilusões da Mente

"A transformação se realiza quando não existe medo, quando não existe “experimentador e experiência”; é só então que se verifica a revolução que está fora do tempo. Tal revolução, porém, não é possível, quando estou tentando transformar o “eu”, quando estou tentando transformar “o que é” noutra coisa diferente. Sou o resultado de compulsões e persuasões de toda ordem, sociais e espirituais, resultado de todo o condicionamento do impulso de aquisição; nisso está baseado o meu pensar.

O importante é compreender que a mente que quer fugir de um estado para outro está sempre funcionando dentro da esfera do tempo e, por esse motivo, não há revolução, não há transformação. Se fordes realmente capazes de compreender isso, estará então plantada a semente daquela revolução radical, a qual entrará em ação; não se precisa fazer coisa alguma.

Se sou capaz de compreender o novo dia, se estou morto, completamente para o “ontem”, que já é “coisa velha”, morto para todas as coisas que aprendi, que adquiri, que experimentei e compreendi, há então revolução em cada momento que vem, e há transformação. Mas o morrer para ontem não é atividade da mente. A mente não pode morrer por força de uma determinação, de evolução, de um ato da vontade. Se a mente reconhecer a verdade de que não pode produzir transformação alguma por ação da vontade, ou por meio de uma determinada conclusão ou compulsão, — e o que se produz por essa maneira é apenas uma continuidade, um resultado “modificado” e não uma revolução radical; se a mente estiver silenciosa, por uns poucos segundos apenas, para apreender a verdade dessa asserção, vereis, então, acontecer uma coisa extraordinária, independente de vós mesmos e da mente. Ocorre então, interiormente, uma transformação, sem nenhuma interferência da mente, que é pensamento condicionado. É um extraordinário estado mental, esse em que não existe “experimentador” e não existe “experiência”. Daí resulta uma revolução total. Esta revolução total é a única coisa que pode trazer a paz ao mundo.

Porque a verdade não pertence ao tempo, a verdade não pertence a nenhum grupo, nenhuma religião, nenhum mentor, nenhum discípulo. Onde há um mentor, onde há um seguidor, onde há uma nacionalidade, lá não está a Verdade. A Verdade só pode surgir, quando a mente compreendeu e se acha tranqüila; só então pode manifestar-se aquela Realidade."

Jiddu Krishnamurti - As Ilusões da Mente - 1954

2 comentários:

  1. (Grato por me enviar esse texto)
    Ele é uma síntese fundamental do ensinamento de Krishnamurti. Como no ensinamento gnóstico de todos os tempos temos, também aqui, uma expressão profunda do fato de que não se chega a uma transformação fundamental por nenhuma forma de aperfeiçoamento do nosso estado atual de consciência. Como diz Eckhart Tolle "Não é um FAZER".Portanto, ao contrário do que diz praticamente toda a tendência esotérica, não estamos em EVOLUÇÃO espiritual (aperfeiçoamento contínuo)mas sim numa estagnação circular que tem o único (e importante) mérito de nos levar a um LIMITE. E o ROMPIMENTO desse LIMITE não é um ato da nossa vontade mas sim um fato consequente do próprio esgotamento que o estado de Limite traz e é um evento descontínuo: "Não se põe vinho novo em odres velhas"

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  2. Para conquistarmos a plena corcordancia entre o pensamento e a mente qual passo temos que organizar primeiro?

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