Ao nos identificamos com a mente, criamos
uma tela opaca de conceitos, rótulos, imagens, palavras, julgamentos e
definições que bloqueiam todas as relações verdadeiras. Essa tela se situa
entre você e o seu eu interior, entre você e o próximo, entre você e a
natureza, entre você e Deus. E essa tela de pensamentos que cria uma ilusão de
separação, uma ilusão de que existe você e um "outro" totalmente à
parte. Esquecemos o fato essencial de que, debaixo do nível das aparências
físicas, formamos uma unidade com tudo aquilo que é. Por
"esquecermos" quero dizer que não sentimos mais essa unidade como uma
realidade evidente por si só. Podemos até acreditar que isso seja uma verdade,
mas não mais a reconhecemos como verdade. Acreditar pode até trazer conforto.
No entanto, a libertação só pode vir através da vivência pessoal.
Pensar se tornou uma doença. A doença
acontece quando as coisas se desequilibram. Por exemplo, não há nada de errado
com a divisão e a multiplicação das células no corpo humano. Mas, quando esse
processo acontece sem levar em conta o organismo como um todo, as células se
proliferam e temos a doença.
Se for usada corretamente, a mente é um
instrumento magnífico. Entretanto, quando a usamos de forma errada, ela se
torna destrutiva. Para ser ainda mais preciso, não é você que usa a sua mente
de forma errada. Em geral, você simplesmente não usa a mente. É ela que usa
você. Essa é a doença. Você acredita que é a sua mente. Eis aí o delírio. O
instrumento se apossou de você.
Só porque podemos resolver palavras
cruzadas ou construir uma bomba atômica não significa que estejamos usando a
mente. Assim como os cães adoram mastigar ossos, a mente adora transformar
dificuldades em problemas. É por isso que ela resolve palavras cruzadas e
constrói bombas atômicas. Mas essas coisas não interessam a você. Pergunto
então: você consegue se livrar da sua mente quando quer? Já encontrou o botão
que a "desliga"?
Então, é porque a mente está usando você.
Estamos tão identificados com ela que nem percebemos que somos seus escravos. É
quase como se algo nos dominasse sem termos consciência disso e passássemos a
viver como se fôssemos a entidade dominadora. A liberdade começa quando percebemos
que não somos a entidade dominadora, o pensador. Saber disso nos permite
observar a entidade. No momento em que começamos a observar o pensador,
ativamos um nível mais alto de consciência. Começamos a perceber, então, que
existe uma vasta área de inteligência além do pensamento, e que este é apenas
um aspecto diminuto da inteligência. Percebemos também que todas as coisas
realmente importantes como a beleza, o amor, a criatividade, a alegria e a paz
interior surgem de um ponto além da mente. É quando começamos a acordar.
Impressiona o alinhamento deste autor com o ensino de Juddi Krishnamurti.
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